Cecília Meireles e Fernando Correia Dias
“Em 24 de Outubro de 1922, ela, com vinte anos, ele, com 29, casavam-se, na Matriz de São João Batista, bairro carioca de Botafogo. Ela ainda tateando o terreno da poesia, ainda norteando, assenhoreando-se do próprio talento – cuja verdadeira dimensão, até às vésperas de centenário de seu nascimento, quando se começou a publicar em extensão o conjunto de sua obra em prosa, ainda se está por avaliar com maior precisão. Processo de descoberta que, à época, num ser feminino e num país atrasado, devia constituir uma empresa particularmente difícil. Ele, já com reputação feita.”
[...] Assim, mesmo em plena temporada brasileira de ‘lusofobia’, a escritora carioca tinha motivos particulares para continuar aproximando-se, entre outras, da cultura e da literatura portuguesas, de que Fernando lhe daria tão vivas referências, especialmente do período de passagem do Saudosismo para o Modernismo.
‘Tão bom e tão artista’, como costumava dizer Cecília, o marido sofria de crises periódicas de depressão. Ela preocupava-se, uma vez que uma irmã dele, em decorrência de uma crise dessas, acabara por suicidar-se. E – ela chegaria a comentar – Fernando sempre recusara a hipótese de qualquer tratamento.
Naquelas três semanas em Lisboa, depois de tão prolongada ausência de seu país natal, Fernando desencontrara vários amigos da década de 10, o que deve tê-lo entretecido. Cecília chegou a manifestar a esperança de que a temporada junto à sua família. O reencontro da casa e da terra da infância voltassem a estimulá-lo. Certamente por isso não lhe foi difícil interromper aqueles dias de doce convívio, conversas e descobertas em Lisboa.”
GOUVÊA, Leila V. B., Cecília Em Portugal, Editora Iluminuras , 2001, pp. 52-53.
Na imagem: Cecília Meireles