A ‘conspiração’ e a ‘contra-conspiração’ em torno do prémio do SPN concedido à Mensagem de Fernando Pessoa


"Para mim, não oferece dúvidas que a publicação da Mensagem e a sua apresentação ao concurso foram o resultado de uma conspiração de, pelo menos, quatro amigos de Pessoa: Augusto Ferreira Gomes, Augusto Cunha, Almada Negreiros e o próprio António Ferro.

O Director do S.P.N., antigo companheiro de Pessoa dos tempos do Orpheu, tinha todo o interesse político em reconhecer oficialmente o talento de Pessoa tornando-o, pelo menos na aparência, um escritor não desafecto à “Situação”. Sabe-se hoje que esse seu interesse em ver Pessoa concorrer e ganhar o Prémio Antero de Quental, o levou ao ponto de adiantar, do “saco azul” do Secretariado, o dinheiro necessário para a composição e impressão da Mensagem, como há anos me revelou o pintor Paulo Ferreira, à época jovem colaborador do S.P.N.

Assegurada a cumplicidade activa de António Ferro, os outros conspiradores montaram um “lobby” destinado a influenciar o júri em favor da Mensagem.

[…] O inacreditável subterfúgio do “número de páginas” utilizado para afastar a Mensagem do prémio da categoria “livro de versos”, revela, a meu ver, que na fase final do concurso, Fernando Pessoa terá sido vítima de uma contra-conspiração, agora por parte do júri. Terá sido a influência do muito poderoso Alfredo Pimenta, autor da carta- prefácio publicada em A Romaria, na qual fazia encomiásticos elogios a Vasco Reis? E Alfredo Pimenta era um dos inimigos de estimação de Fernando Pessoa – e vice- versa..."

José Blanco, “A verdade da mensagem

Na imagem: frase de Alfredo Pimento em azulejos de Jorge Colaço.