O lendário “não-encontro” entre Cecília Meireles e Fernando Pessoa numa noite lisboeta de 1934
“Fato é que Cecília quis conhecer Pessoa e um encontro foi marcado, provavelmente no café A Brasileira, no Chiado. Pessoa não apareceu. Após duas horas de espera, o marido achou melhor desistir. No livro Cecília em Portugal, Leila Gouvêa imagina o seguinte diálogo entre o casal:
Vamos, Cecília, ele não virá! – Podemos aguardar um pouco mais, quem sabe ocorreu um imprevisto... – Não, é perda de tempo. Eu o conheço bem. Se não veio até agora, não vem mais.
[…] Muito já se especulou sobre as razões de Pessoa. Prosperou a versão pouco fiável de que a principal delas era de ordem transcendental: os astros o teriam dissuadido de comparecer ao encontro. Heitor Grilo, o segundo marido de Cecília, teria difundido essa história depois da morte dela em 1964. A própria Cecília não contribuiu muito para esclarecer o episódio. Apenas, numa carta a Armando Cortes Rodrigues, escreveu em 1944: ‘Como lamento não o ter conhecido!’ E, mais tarde, numa crônica, dirigiu-se ao próprio Pessoa nestes termos: ‘Mas tu preferes a penumbra dos cafés sonolentos, em cujas mesas todos os poetas da Lusitânia fincam algum dia o cotovelo e, fronte apoiada ao punho, criam aqueles sonhos que eles mesmos não governam’”.
Eustáquio Gomes, “Fernando & Cecília”- http://www.amalgama.blog.br/02/2010/fernando-cecilia/
Na imagem: A chegada de Cecília Meireles a Lisboa em 1934 (ilustração de Fernando Correia Dias)