Fernando Pessoa enquanto "sebastianista racionalista", em oposição aos “Sebastianistas literais”


“Regressando especificamente ao meu tema, a Mensagem, o sebastianismo racionalista foi uma dessas convicções que nunca abandonou. O próprio Pessoa o disse até ao fim. Se assim não fosse, nunca teria enviado o livro a um concurso. Deixou-o bem claro na conhecida carta a Adolfo Casais Monteiro e em entrevista sobre o livro premiado, certamente a sua última: ‘Quis marcar o destino imperial de Portugal, esse império que perpassou através de D. Sebastião, e que continua, ‘há-de ser’’” (Critica, Ensaios, Artigos e Entrevistas, 1999, p. 497). Faltava-lhe, porém, a vontade – amarrava-o a famigerada emoção desinteressada – e que não acreditava mais nas suas concepções quiçá ingénuas do poder da poesia e da capacidade de Portugal mudar.
É de novo ele que o afirma: ‘Lamento que houvesse perdido tempo relendo qualquer dos meus artigos do tempo de A Águia. São episódios, talvez curiosos psicologicamente, da minha adolescência intelectual. Mantenho o ‘optimismo’ em que assentam; porém, hoje não daria a esse optimismo igual pensamento nem aquela expressão’’ (carta a Francisco Costa de 10 de Agosto e 1925; Correspondência 1923-1935, 1999, p. 83).
Caso existam dúvidas sobre o significado desse ‘optimismo’, encontraríamos de novo a explicação fornecida pelo próprio Pessoa, desta vez numa carta ao director do Jornal do Comercio protestando por num artigo de Augusto da Costa ter saído gralhada a expressão ‘Sebastianistas liberais’ na transcrição de um escrito de poeta:

Não escrevi liberais , escrevi literais . E, como é de ver, com esta palavra literais pretendi designar aqueles Sebastianistas que tomaram à letra o regresso profetizado de El-rei D. Sebastião, Nosso senhor; que enganadamente supunham pessoal e carnal esse Regresso. Implicitamente os opus àqueles outros Sebastianistas que, como Augusto da Costa e eu, esperamos e confiamos nesse Regresso no seu alto sentido simbólico, que é o verdadeiro. [Correspondência 1923-1935, 1999. p. 134].”

- ALMEIDA, Onésimo T. , “Mensagem – uma revisitação”, in A Arca de Pessoa (org. Steffen Dix e Jerónimo Pizarro), Lisboa, ICS, 2007, pp. 213-214.

Na imagem: um plano no filme “Poesia de Segunda Categoria”