A Mensagem como ‘anti-Lusíadas’: Fernando Pessoa como Messias de Portugal.
"[...] Os Lusíadas são historicamente sublimes, mas não menos sublimemente mortos. Mensagem é, na sua intenção não apenas ‘super-Lusíadas’, como ele vaticinara, anunciando-se a si mesmo como super-Camões, mas ‘anti-Lusíadas’. Para isso Pessoa substitui a mitologia do tipo clássico, como a dos Lusíadas, com as suas referências a Homero e Virgílio e os seus heróis da realidade, por uma mitologia puramente simbólica.
Os seus heróis são figuras incoativas, menos a memória da vida gloriosa dos séculos XV e XVII, espécie de sombras à espera de reencarnarem de outra maneira e de serem os anjos que abrem as portas de um outro céu que não é o céu da transcendência objectivada, mas um outro céu, num outro mundo, e sobretudo um outro império diferente daquele que serviria a Camões como espaço do seu poema. É o famoso Portugal-Quinto Império, esse espaço de enigmática esperança, que justifica o título nebuloso e messiânico da Mensagem.
Os seus heróis são figuras incoativas, menos a memória da vida gloriosa dos séculos XV e XVII, espécie de sombras à espera de reencarnarem de outra maneira e de serem os anjos que abrem as portas de um outro céu que não é o céu da transcendência objectivada, mas um outro céu, num outro mundo, e sobretudo um outro império diferente daquele que serviria a Camões como espaço do seu poema. É o famoso Portugal-Quinto Império, esse espaço de enigmática esperança, que justifica o título nebuloso e messiânico da Mensagem.
Este Quinto Império tinha uma tradição não só no nosso passado cultural de fonte bíblica, como em toda a Europa desde o Livro de Daniel. Esse império é de essência histórica, conhece a sucessão dos tempos, mas o que lhe dá movimento e vida é a instauração de uma espécie de reino de Deus, de império de Deus na Terra. É essa utopia cristocêntrica, de um ‘Deus revertendo para humano’, que sustenta a Mensagem.
[...] Ninguém como Pessoa, a todos os níveis desestruturou a imagem milenária que os portugueses – sobretudo como crença realisticamente vivida – cultivaram como sendo Portugal, a sua alma e o seu espírito. E por um milagre na aparência inexplicável este destruidor de mitos consoladores converteu-se numa espécie de Messias de Portugal".
- LOURENÇO, Eduardo, “Pessoa e Portugal e Portugal e Pessoa”, in A Arca de Pessoa (org. Steffen Dix e Jerónimo Pizarro), Lisboa, ICS, 2007, pp. 27-31.
Na imagem: Fernando Pessoa interpretado por Rui Mário no filme “Poesia de Segunda Categoria”