André Gago como Álvaro de Campos
O actor André Gago deu-nos o seu testemunho acerca da sua interpretação de Álvaro de Campos no filme “Poesia de Segunda Categoria”. O heterónimo engenheiro dirige-se ao quarto de Fernando Pessoa a fim de o acompanhar à Festa de entrega dos Prémios Literários do SPN.
“Sabemos que ir preparado para filmar inclui não levar nenhuma ideia
pré-concebida sobre como será filmada a cena. O realizador, o cenário — o
espaço físico —, e a planificação encarregar-se-ão de nos levar a um jogo que
não podemos antecipar. Encaixamo-nos nesse todo, ocupando o espaço que nos é
dado, tentando encher-lhe não apenas o corpo central mas também as pequenas
fissuras. Sabemos também do poder amplificador da câmara, e levamos em mente a
ideia de fazer muito demonstrando o menos possível, para que o traço não
resulte grosso na tela. Dito isto, gosto muito do espaço para a improvisação e
para a surpresa, e por vezes isso implica também lugar para a explosão, para a
expressividade mais larga, para certo pathos mais dionisíaco, por assim
dizer. Creio que isso aconteceu
durante esta rodagem, o que em si é bom, porque nos envolve a todos num momento
em que sentimos que uma particular energia tomou conta de todos. Só resta
esperar que funcione, que ela logre passar da tela para o espectador e que,
assim, o círculo se feche e o gesto se cumpra. Torço por isso!”
Na imagem: fotograma do filme “Poesia de Segunda
Categoria”. Álvaro de Campos (interpretado por André Gago) no momento em que
“ajuda” Fernando Pessoa a rescrever um poema do qual este já havia
desistido. O poema é, efectivamente, de Álvaro de Campos, intitulado “Afinal, a
melhor maneira de viajar e sentir” e está disponível on-line no Arquivo Pessoa