Os perigos da edição de uma obra fragmentada
Steffen Dix e Jerónimo Pizarro, os editores do livro A Arca
de Pessoa (2007), chamam-nos a atenção para um perigo.
No exacto momento em que a obra de Fernando Pessoa caiu no domínio público, a par da positiva publicação independente dos escritos pessoanos “do ponto de vista da circulação livre das informações e dos conhecimentos”, o fantasma da edição demasiadamente dirigida, potencialmente extrapoladora (como aconteceu com Friedrich Nietzsche, cuja primeira organização e transcrição marcadamente tendenciosa - dos seus aforismos ou trechos, que deram corpo ao volume A Vontade de Poder, feita por alguém admirador de Hitler que nunca escondeu as suas tendencias anti-semitas, a converteu rapidamente numa obra de referência para a propaganda do fascismo alemão), é uma ameaça real no caso do poeta português, em razão de ele não ter deixado para a posteridade propriamente livros acabados, mas sim, um pouco como o citado filosofo alemão, “milhares de fragmentos, planos, esboços ou projectos.”
No exacto momento em que a obra de Fernando Pessoa caiu no domínio público, a par da positiva publicação independente dos escritos pessoanos “do ponto de vista da circulação livre das informações e dos conhecimentos”, o fantasma da edição demasiadamente dirigida, potencialmente extrapoladora (como aconteceu com Friedrich Nietzsche, cuja primeira organização e transcrição marcadamente tendenciosa - dos seus aforismos ou trechos, que deram corpo ao volume A Vontade de Poder, feita por alguém admirador de Hitler que nunca escondeu as suas tendencias anti-semitas, a converteu rapidamente numa obra de referência para a propaganda do fascismo alemão), é uma ameaça real no caso do poeta português, em razão de ele não ter deixado para a posteridade propriamente livros acabados, mas sim, um pouco como o citado filosofo alemão, “milhares de fragmentos, planos, esboços ou projectos.”
Tal como fizemos referência num post anterior, esse é já em boa medida o posicionamento de Alfredo Margarido quando, no período imediatamernte sequente ao do 25 de Abril, após uma então recente publicação de textos inéditos de Pessoa, discorda com a tentativa de alguns autores de converterem Fernando Pessoa num “poeta democrático” [texto integral aqui]).
Um conjunto de áreas de investigação menos exploradas, como
as da sociologia ou da ciência politica, têm vindo a emergir para além da
perspectiva estritamente literária, com contributos de resoluta pertinência e
actualidade no campo dos estudos pessoanos. Ao mesmo tempo porém, tal como tão
bem nos advertem Dix e Pizarro, “são precisamente os célebres contrastes ou as
aparentes contradições em Pessoa que oferecem múltiplas possibilidades a vários
grupos para usarem a obra dele em benefício das próprias opções politicas,
religiosas, éticas ou estéticas.”
Na imagem: capa do livro A Arca de Pessoa (org. Steffen Dix e Jerónimo Pizarro), Lisboa, ICS,
2007.